História


A nossa escola entrou em funcionamento no ano letivo de 1982/83, com a designação de Escola Preparatória do Monte Abraão, tendo capacidade para 600 alunos do 2º ciclo. A pouco e pouco foi recebendo alunos do 3º ciclo. Em 1998, adquiriu a designação oficial de Escola Básica 2,3 Ruy Belo. No último ano lectivo a população escolar passou a rondar os 1000 alunos, do 5º ao 9º ano de escolaridade. Estes provêm maioritariamente das freguesias do Monte Abraão e de Queluz, embora alguns também provenham de Massamá, Idanha e Belas. O corpo docente é maioritariamente constituído por elementos do sexo feminino e pode ser considerado estável, já que a maioria pertence ao quadro de nomeação definitiva.

O patrono
Professor, cidadão exemplar,antigo funcionário do Ministério da Educação, homem de cultura e de diálogo, Ruy Belo (1933-1978) é um dos poetas marcantes deste século com uma obra de referência na literatura portuguesa contemporânea quer pelos temas que abordou quer pelos caminhos inovadores que trilhou com inspiração, inteligência, sabedoria e sentido de modernidade, usando as potencialidades da língua para exprimir os sinais dos tempos e o sentido poético da vida quotidiana.

Ruy de Moura Belo nasceu na pequena aldeia de São João da Ribeira, no concelho de Rio Maior. Licenciou-se em Direito e, posteriormente, em Filologia Românica. Fez o doutoramento em Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma com a tese Ficção Literária e Censura Eclesiástica.

Entre 1958 e 1961 desempenhou as funções de diretor literário da Editorial Aster e chefe de redação da Revista Rumo. Em 1960, exerceu no Ministério da Educação Nacional o cargo de adjunto do diretor do Serviço de Escolha de Livros, ao qual veio a suceder como diretor.

O ano de 1961 revelou-se decisivo para Ruy Belo. Ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Aí, foi aluno, entre outros, de Maria de Lurdes Belchior e Luís Filipe Lindley Cintra, com quem estabeleceu uma forte relação de amizade. Nesse ano, publicou a sua primeira obra poética Aquele Grande Rio Eufrates que, conjuntamente com a obra Colher na Boca, de Herberto Helder, marcou uma viragem na moderna poesia portuguesa.

Em 1962, foi publicado O Problema da Habitação – Alguns Aspetos, cujo tema foi abordado por outros escritores. Posteriormente, numa cadência regular, deu-nos Boca Bilingue (1966), Homem de Palavra(s) (1969), Transporte no Tempo e País Possível (1973), A Margem da Alegria (1974) e Toda a Terra (1976).

Durante esse período traduziu diversos autores, de que se destacam Saint-Exupéry, Blaise Cendras, Raymond Aron e Jorge Luís Borges. Em 1969, publicou o volume de ensaios e crítica literária Na Senda da Poesia.

A partir de 1975 e até 1977 exerceu o cargo de leitor de Português na Universidade de Madrid, após lhe ter sido vedada a carreira universitária que desejava e claramente merecia.

A sua formação católica conduziu-o a uma «consciência do coletivo empenhado, combatente e consciente dos graus de esmagamento do homem», segundo Joaquim Manuel Magalhães, levou-o a intervir politicamente de forma direta, através da candidatura a deputado pela CEUD em 1968, como fundador da SEDES (1969) e, sobretudo, através da sua escrita que, nunca sendo panfletária, esteve sempre atenta às grandes questões sociais e políticas, com «imersão no mundo dos outros».

O seu último título poético, Despeço-Me da Terra da Alegria (1976), trouxe já a premunição do fim próximo, que veio a ocorrer na sua casa do Monte Abraão, em Queluz. Com o desaparecimento do poeta, Portugal perdeu um dos »casos maiores da poesia portuguesa contemporânea», no dizer da professora Maria de Lurdes Belchior, e um homem «justo, bondoso, sincero, puro», na expressão do Professor Luís Filipe Lindley Cintra.

«Vivemos convivemos resistimos/cruzámo-nos nas ruas sobra as árvores/… Vivemos convivemos resistimos/sem saber que em tudo um pouco nós morremos» – assim era o poeta, na força da sua generosidade e da sua fraternidade, sempre atento ao «Sinal deste silêncio que não permite/desistir de cantar enquanto vivo…».

Pedagogo, antes de tudo, Ruy Belo deixou recordações da sua humanidade que têm de ser lembradas. E sobre as crianças disse: «Senhor que a minha vida seja permitir a infância/Embora nunca mais eu saiba como ela se diz…».


Portugal Futuro

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e lhe chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro

in “Homem de Palavra[s]”, 1969, de Ruy Belo

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